30.5.09



Adoro quando você me dá de presente uma palavra do dicionário. E eu tento adivinhar minha sorte. Ou quando diz ter saudades das coisas que te conto. Dos enredos que vivi. Ou ainda quando me abraça apertado. Demoradamente. Por que não lhe disse tudo isso antes? Porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Como fazemos para fazer falar o que não tem palavra? Qual é o nome? Já não importa. E este é o nome.

Vamos encher linguiça, matar o tempo, trocar em miúdos e fazer barulho? Será que eu dormi no ponto? Volto pra estaca zero. Zero a zero. Mas como já virei gato escaldado, não vou mais ficar às moscas. Me engana que eu gosto, na hora h nem te dou bola. Quem tem coração de pedra não dá pano pra manga e fica sempre chupando dedo. Meu sexto sentido diz: faça jogo duro porque a fila anda, já dizia o boca a boca. Aliás se tá na boca do povo é melhor dar ouvidos. A gente sabe que a voz do povo é a voz de deus: mentira deslavada tem perna curta. Se você quer botar pra quebrar tem que abrir o jogo e ter um plano b: nada de bater na trave, ser frio e calculista ou levar tudo a ferro e fogo: chega junto, baixa a guarda, chuta o pau da barraca e manda ver! Se o tempo fechar e você ficar de cara feia não precisa chover no molhado: saia pra pintar o sete, pois quem canta seus males espanta. Deixa rolar,dá a volta por cima é sempre uma solução bem vinda para quem está num beco sem saída. A vaca foi pro brejo? O pulo do gato é este: nada de chá de cadeira, manda todo mundo lamber sabão, saia do fundo do poço vá até onde judas perdeu as botas. Quando chegar por lá, converse com seus botões e fique a ponto de bala, afinal quem espera sempre alcança.

27.5.09

Instruções para leitura, by Na.

Leia o texto abaixo devagar. de va gar. depois acelere um pouco. mais um pouco. rápido. rapidolentamente. pare. comece de novo. e repita. de novo. e de novo.



O Beijo, by Christophe Tarkos.

Um beijo. Eles se beijam. Ele toma sua boca em sua boca, ela toma sua boca em sua boca, eles se beijam. Ele abre seus lábios à sua boca, à sua língua, ela abre seus lábios aos seus lábios, à sua boca, à sua língua, ela gira sua língua em sua boca, ele gira sua língua em sua boca, ele descobre seu beijo, ela descobre a sensação de seu beijo, sua língua doce em sua boca, sua língua doce contra a sua língua, ele envolve sua língua em sua língua, ele a mistura, ela gira sua língua contra sua língua, eles se beijam, ela a mistura, eles se misturam, ela cede sua boca à sua boca, ele cede sua boca à sua boca, eles se dão um beijo, ela lhe dá um beijo e sua língua, ele acaricia sua língua em sua boca, ela acaricia sua língua em sua boca, ela o deixa entrar, ele a deixa entrar, eles se amam, sua língua está em sua boca, ela mete sua língua em sua boca, seus lábios estão colados contra seus lábios, ela acaricia sua língua contra sua língua que gira em sua boca contra sua língua, acaricia sua língua contra sua língua quente e oferecida, ele mete sua língua em sua boca, e então eles se amam, eles se beijam.

26.5.09


Gulosa
hoje eu tive um encontro com meu pedaço de tentação-danação.
gosto de tudo que tem por ali:
os chumbinhos, as lajotinhas, as línguas de gato.
mas ela realmente é a minha perdição.
recheio de marshmallow suave-suculento-doce.
casquinha de chocolate deliciosa-cremosa-gostosa.
lambi,mordi,chupei,comi.
foi uma lambuzada lambuzadamente lambuzeira.
e eu quero mais.

25.5.09


Budapeste

A poesia desaba de dentro. O amor também.
Estou chegando quase. quase.

23.5.09


Passei os últimos dias lendo e ouvindo muito.
Me ensinaram muitas coisas, mas quando colocaram Ingeborg Bachmann diante de mim nada mais foi igual.


Uma espécie de perda

Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados, gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos. E estendemos sempre a mão.

Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,

(-o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um apontamento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.

De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.

Não te perdi a ti,
perdi o mundo.

Bachmann.

21.5.09



Eu!
Fico pensando em nós dois
Cada um na sua
Perdidos na cidade nua
Empapuçados de amor
Numa noite de verão
Ai! Que coisa boa
À meia-luz, à sós, à tôa...

Você e eu somos um
Caso Sério
Ao som de um bolero
Dose dupla
Românticos de Cuba
Libre!
Misto-quente
Sanduíche de gente....
Rita Lee.


Nas mãos e mente de Joan Brossa, poesia é transformismo, arte é metamorfose. Rica imaginação plástica poética que transborda lirismo e humor, ironia e experimentalismo. Brossa iniciou um intercâmbio artístico e intelectual com o escritor João Cabral, a partir de 1947, enquanto o poeta esteve em Barcelona representando o Brasil na função de diplomata. Desse encontro poético a poesia visual ganhou frutos muito instigantes. Cabral editou os dois primeiros livros poéticos de Brossa: Sonets de Caruixa, de 1950 e Em va fer Joan Brossa, de 1951. A poética brossiana trabalha com fragmentos da realidade, criando interferências lúdicas e mudanças de sentidos para a poesia do cotidiano. A imagem torna-se palavra, a palavra transmuta-se em coisa. É uma provocação. O artista trabalha com fragmentos da realidade, criando interferências lúdicas e mudanças de sentidos para a poesia do cotidiano.Letras, símbolos, objetos, idéias: a poesia visual invade as ruas da grande cidade. A poética da imagem transforma o modo de criar arte em um estado de comunicação pulsante nas mãos do catalão. Para Brossa, não existe fronteiras fixas entre os gêneros artísticos.

20.5.09


Hoje aconteceu uma coisa muito legal: no meio das contas do mês, das malas-diretas-chatas, do cartãozinho da pizzaria e do homem que conserta encanamentos eu recebi uma carta de um amigo. É isso mesmo: uma "Carta". Escrita mesmo, sabe? Ele recortou, tirou cópia, escreveu na frente, no verso e mandou pelo correio. Tem a letra da pessoa, o envelope que ele escolheu, o selo e tudo mais. Que delícia! Ele mandou a introdução do novo livro do escritor inglês Nick Hornby. Giba, você é o máximo!

“No início da minha carreira literária, escrevi resenhas sobres muitas ficções, mas eu tinha que fingir, como todo crítico, que eu havia lido os livros fora do espaço, do tempo e do self; ou seja, tive de fingir que não os tinha lido quando estava cansado ou irritado, ou bêbado, que não senti inveja do autor, que eu não fazia mais nada da vida, que não tinha estética, gosto ou problemas pessoais, que eu não havia lido outras críticas do mesmo livro, que eu desconhecia os amigos e os inimigos do autor. (...) eu teria a liberdade de confessar, se fosse o caso, que minha relação com o livro tinha sido afetada pela atmosfera, pelo meu estado de espírito, pelos meus níveis de concentração, pelas condições climáticas ou por alguma coisa que tivesse acontecido aqui em casa” Nick Hornby. Introdução Frenesi Polissilábico.

E pra quem não conhece... nós recomendamos Hornby na cabeceira!Comece com Alta Fidelidade, clássico!!!

Habilidade na letra, na voz e no penteado.


I cheated myself
Like I knew I would
I told you I was trouble
You know that I'm no good

19.5.09

Eu coleciono vícios, epígrafes e esperas.
Moro num cenário. imaginário.
Nas listras listradas, coloridas e comidas do seu mundo.


Para as pipocas
Cada encontro é uma festa sem fim.
A gente é do samba e da farra.
Da vida e do rock.
Da alegria e do amor.
Cheias de narrativas.
Antropofágicas .
Ahh, essas mulheres mágicas.
O Leitor
O que você teria feito?
Quero te ouvir contar todas as histórias.
Leia, leia, leia.

18.5.09



Hoje eu acordei assim: quero experimentar o que ainda não provei. O que ainda não enxerguei, alcancei e senti. Todo dia tudo sempre outro. Outra. De mim mesma. Salgada, doce, agridoce. Apimentada. Carente. Louca. A mesma cama. Um novo sonho. A velha e amiga música no meu rádio. Embalo das horas e dos delírios de hoje. De amanhã. E depois. Até o fim.