11.6.09


Charneca em flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas,
Sob as urzes queimadas nascem rosas
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmuram-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago !

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtase de amo,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca.

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